Irmãos, o Senhor desde da fundação do mundo nos chama a sermos santos. Este é o chamado de todo batizado. 1 Pd 1:15-16, responder a este chamado requer de nossa parte um querer, pois, Deus não nos obriga e nem força a fazer nada. Ao nos criar Ele deu a liberdade de escolha, somos nós que escolhemos viver N’Ele ou não. Mas, devemos entender que a nossa escolha fora de seus planos acarreta em sofrimento e solidão (Dt 30,15).
Faremos uma breve reflexão sobre a ciência dos santos que ensinaram o caminho para alcançarmos a santidade e, antes de ensinar, viveram plenamente para nos dar exemplo que é possível vivermos neste mundo com o coração no céu.
O homem é um composto misterioso de corpo e alma, de matéria e espírito que se unem intimamente nele, para formarem uma única natureza e pessoa. É um mundo cheio de vida que, segundo S. Gregório Magno, distinguem-se três vidas; a vegetativa, a animal e a intelectual: “Homo habet vivere cum plantis, sentire cum animantibus, intelligere cum angelis” Como a planta, o homem se alimenta, cresce e reproduz-se; como o animal, conhece os objetos sensíveis, tende para eles pelo apetite sensitivo com suas emoções e paixões, e move-se com movimento espontâneo; como anjo, se bem que em grau inferior e de modo diverso, conhece intelectualmente o ser suprassensível, a verdade, e com vontade inclina-se livremente para o bem racional. Essas três vidas não se sobrepõem, mas compenetram-se, coordenam-se e subordinam-se, para correrem para o mesmo fim, que é a perfeição do ser completo.
A vida é pois uma luta: as nossas faculdades inferiores lançam-se com ardor para o prazer, enquanto as faculdades superiores tendem para o bem honesto. Entre esses dois bens há muitas vezes conflito: o que nos agrada, o que nos parece útil, nem sempre é moralmente bom. É necessário que a razão, faça reinar a ordem, combata as tendências contrárias e triunfe: é a luta do espírito contra a carne, da vontade contra a paixão. Esta luta, por vezes, nos deixa chateado: assim como na primavera a seiva sobe pelas árvores, assim há por vezes na parte sensitiva da nossa alma impulsos violentos para o prazer sensível. Mas, porém não irresistíveis: a vontade ajudada pela inteligência, exerce sobre esses movimentos das paixões um quádruplo poder: 1) Poder de previdência, que consiste em prever e prevenir, por meio de prudente vigilância, muitas impressões e emoções perigosas; nunca devemos nos expor ao perigo, é muito importante aprender a se conhecer bem. Não se achar forte o bastante para chegar próximo ao precipício. 2) Poder de inibição ou de moderação, pelo qual travamos ou, pelo menos, moderamos os movimentos violentos que se elevam em nossa alma; assim, por exemplo, posso impedir os meus olhos se deterem num Objeto perigoso, a imaginação de conversar, imagens lúbricas; se em mim se levanta um movimento de cólera, posso-o refrear; 3) poder de estimulação, que excita ou intensifica pela vontade; movimentos passionais; 4) poder de direção, que nos permite dirigir esses movimentos para o bem, e, por isso mesmo, afastá-los do mal.
Além dessas lutas interiores, podem haver outras entre a alma e o seu Criador. Pela reta razão devemos sem dúvida nos submeter Àquele que é nosso Soberano Senhor. Mas esta obediência custa-nos; há em nós uma espécie de sede de independência e autonomia que nos inclina à desobediência à autoridade divina; é o orgulho, que só é vencido pela humildade e pelo reconhecimento de nossa pequenez, de nossa impotência, reconhecendo os direitos imprescritíveis do Criador sobre a criatura.
Quando o homem, em lugar de ceder aos maus instintos, cumpre o dever, pode com toda a justiça aguardar uma recompensa: esta será para sua alma imortal um conhecimento mais extenso e profundo da verdade e Deus (sempre, porém, conforme à sua natureza, isto é, analítico ou discursivo) é um amor mais puro e duradouro. Se, pelo contrário, transgride livremente a lei em matéria grave e não se arrepende antes de morrer, não atinge o seu fim e merece um castigo, que será a privação de Deus, acompanhada de tormentos proporcionados à gravidade de suas culpas.
Que o Senhor nos ajude a ser perseverantes no bem, e verdadeiros guerreiros contra nossas tendências. Para que, como São Paulo, um dia possamos dizer: (2Tm 4,7) “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”
Comunidade Anunciadores do Reino
Biografia:
- Bíblia de Jerusalém
- Compêndio de Teologia (Ascética & Mística)